quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Prefácio e Capítulo 1

Prefácio

"Aquilo simplesmente não podia estar acontecendo, a não ser que eu estivesse sonhando, ou mesmo ficando louca, ele não podia estar ali na minha frente, exatamente como eu o conhecera quatro anos atrás; lindo, com o seu sorriso simples e ligeiramente triste que tanto me encantava. Claro que eu queria acreditar que pudesse ser verdade, que ele me abraçasse forte, e me dissesse que tudo o que acontecera um ano atrás na 25 de março não passara de um pesadelo, que ele estava vivo , e que aquela maldita bala perdida não tivesse atravessado o seu peito... Mas Leonardo estava morto, e nada poderia mudar isso.
Ele se aproximou de mim, eu não tive medo, senti a sua mão acariciar a minha face, e me arrepiei ao sentir o frio de sua pele, estranhamente, penetrar o meu rosto.
- Que estranho... você não parece assustada da maneira que imaginei - disse ele, brincalhão.
E, segundos depois, a minha voz saiu quase como um sussurro:
- É... você mesmo?... Como... como pode ser?
Ele riu, e por um momento eu pensei que o som de sua risada pudesse ter acordado a minha mãe, no quarto ao lado.
- Eu... eu não sei - respondeu ele.
E eu senti o meu rosto ser puxado com força em sua direção. Nossos lábios se encontraram, e é simplesmente impossível descrever o quão mágico foi aquele instante, aquela sensação. Eu deixei o frio de seu corpo me penetrar, e desejei que aquele momento, por mais improvável que ele pudesse ser, nunca acabasse."



Capítulo 1 - Frio

Eu não conseguia dormir, meu olhar passeava pelo quarto, enquanto eu esperava inutilmente pelo sono. Olhei para o despertador: 2 horas da manhã. Até ali, já tentara de tudo para conseguir dormir, desde ler um dos livros de auto ajuda da minha mãe, à assistir qualquer lixo televisivo. Depois de ter lido dois capítulos de "Como domesticar seu marido", e ter visto a versão moderninha de "Carrie a estranha", na Sessão Insônia, ainda não conseguia dormir. Naquele mesmo dia eu estaria retornando ao colégio interno Lar do Sagrado Espírito Santo, onde estudava desde a quarta série, para iniciar o meu 1º ano ginasial. Estava ansiosa para rever meus amigos, Olavo e Janaína, que estudavam comigo desde o meu primeiro ano no Lar, e culpei essa ansiedade pela minha repentina falta de sono. Me perguntei se talvez Olavo e Janaína também estivessem tendo problemas para dormir, então olhei novamente para o despertador: 2 e 15 da madrugada.
Decidi ir até o banheiro em frente ao meu quarto, mais por vontade de sair da cama, do que por real necessidade. Depois de sair do quarto, dei dois passos, e abri a porta à minha frente. Quase caí no sono enquanto urinava; lavei as mãos e o rosto, esperançosa com relação a possibilidade de finalmente conseguir dormir. Fora do banheiro, tive a impressão de ter visto um vulto esbranquiçado, no espelho que cobria a parede inteira no fim do corredor. Em seguida, olhei rapidamente para o lugar onde a pessoa que eu vira no espelho, deveria realmente estar, e não vi nada além da escada que conduzia ao térreo da casa. Abri a porta do quarto e corri para minha cama, me enrolando da cabeça aos pés, com o edredom. Fechei os olhos, o mais forte que pude, prometendo a mim mesma que não os abriria até que minha mãe viesse me acordar, o que aconteceria em poucas horas.
Devo ter dormido por uns trinta minutos. Quando acordei, estava deitada de lado, e percebi que a minha cabeça não estava mais coberta pelo edredom. Abri os olhos, e o que eu vi, me fez levantar tão rápido da cama, que eu me desequilibrei e caí no chão, onde permaneci, sem forças para me levantar. Aquilo simplesmente não podia estar acontecendo, a não ser que eu estivesse sonhando, ou mesmo ficando louca, ele não podia estar ali na minha frente, exatamente como eu o conhecera quatro anos atrás; lindo, com o seu sorriso simples e ligeiramente triste que tanto me encantava. Claro que eu queria acreditar que pudesse ser verdade, que ele me abraçasse forte, e me dissesse que tudo o que acontecera um ano atrás na 25 de março não passara de um pesadelo, que ele estava vivo , e que aquela maldita bala perdida não tivesse atravessado o seu peito... Mas Leonardo estava morto, e nada poderia mudar isso. Ele se aproximou de mim, eu não tive medo, senti a sua mão acariciar a minha face, e me arrepiei ao sentir o frio de sua pele, estranhamente, penetrar o meu rosto.
- Que estranho... você não parece assustada da maneira que imaginei - disse ele, brincalhão.
E, segundos depois, a minha voz saiu quase como um sussurro:
- É... você mesmo?... Como... como pode ser?
Ele riu, e por um momento eu pensei que o som de sua risada pudesse ter acordado a minha mãe, no quarto ao lado.
- Eu... eu não sei - respondeu ele.
E eu senti o meu rosto ser puxado com força em sua direção. Nossos lábios se encontraram, e é simplesmente impossível descrever o quão mágico foi aquele instante, aquela sensação. Eu deixei o frio de seu corpo me penetrar, e desejei que aquele momento, por mais improvável que ele pudesse ser, nunca acabasse.